Era uma noite quente de setembro, o verão relutante em partir, quando decidi ir ao estádio da escola secundária. Não pelo jogo, alguma final local que mal sabia o placar, mas para fugir do apartamento, do celular, de mim mesma. E, confesso, pelos nachos da lanchonete.
Instalei-me em uma fileira quase vazia, descalça, com um Gatorade gelado e uma bandeja gordurosa no colo. A tranquilidade do lugar, misturada ao burburinho distante, era perfeita… até avistar ele.
Um garotinho de quatro ou cinco anos, desengonçado, segurando um dedo de espuma azul maior que seu braço. Tênis com luzinhas piscando, boné escorregando nos olhos. Observava o campo com seriedade, esticando o pescoço para ver além da grade.
O responsável deve estar na lanchonete, pensei, mantendo-o no canto do olho. Dez minutos se passaram. Ninguém veio. Ele coçava os olhos, balançando de cansaço, até que, de repente, caminhou até mim e sentou-se ao meu lado.
Encostou a cabeça no meu braço, como se me conhecesse há anos. Cheirava a protetor solar e queijo derretido. Congelei.
— Ei, campeão? — sussurrei, cutucando-o levemente. Nada. Apenas um ronquinho suave.
Chamei uma funcionária do estádio, de crachá na camisa polo.
— Ele é seu? — perguntou, agachando-se.
— Não… Ele só sentou aqui e dormiu.
Seu rosto endureceu. Falou algo no rádio: “Criança desaparecida. Arquibancada norte.” Explicou que receberam um alerta há 40 minutos. Meu coração acelerou.
Minutos depois, seguranças e uma mulher de jaqueta azul-marinho subiram as escadas.
— Sou Lauren. Ele disse algo? — perguntou, ajoelhando-se.
— Nada. Só veio e dormiu.
Wyatt. O nome dele ecoou enquanto o segurança o carregava, ainda sonolento. Antes de sumir nas escadas, ele estendeu a mãozinha:
— Gosto da sua blusa.
Sorri, a garganta apertada.
No dia seguinte, uma ligação. Número desconhecido.
— Sou a mãe do Wyatt — a voz embargou. Enfermeira, turnos longos, não sabia como ele se perdeu. — Ele é tímido… mas confiou em você. Obrigada por estar ali.
Desliguei. Fiquei horas revirando o acaso: quase não fui ao jogo, quase escolhi outro lugar. Um gesto mínimo — estar ali, ser um porto — mudou algo.
O mundo às vezes coloca coisas estranhas no seu colo. Naquela noite, era um menino com hálito de nacho e um dedo de espuma, precisando apenas de um lugar para descansar.
E talvez, só talvez, ter sido esse lugar tenha sido a coisa mais importante que fiz naquela semana, com a reflexão de que um simples gesto de bondade pode causar grandes impactos.